A criação com apego não tem nada a ver com criar um filho sem disciplina, muito pelo contrário.
Se você acha que criação com apego tem a ver com uma criação sem disciplina, precisa ler este artigo até o final. Nele eu vou te explicar por que criar com apego se trata de quebrar ciclos e facilitar o diálogo e vínculo com os filhos de tão forma que as coisas se tornam mais fáceis para todos.
Toda mãe e pai quer o melhor para os filhos e o amor por eles é sempre incontestável. Todos querem que seus filhos cresçam de forma saudável, feliz, seguros de si e preparados para a vida. Não há dúvidas que a maioria dos pais mentalmente saudáveis, desejam o melhor para seus filhos, o tempo inteiro. E é aí que a criação com apego entra em cena.
A criação com apego já tem muitos adeptos e sem dúvida vem mostrando ao longo do tempo que diferente do que muitos pensam, o método não cria crianças super dependentes dos pais, mas muito pelo contrário, cria crianças independentes, seguras de si e muito felizes. Certas de que são amadas, com relacionamentos saudáveis ao longo da vida e de que podem encontrar em suas famílias um porto seguro.
O que é criação com apego?
Quando as pessoas ouvem falar na criação com apego e seus princípios, as vezes, imaginam que são regras a se seguir e na realidade, não se trata disto. Não existem fórmulas para se criar filhos e cada família com o tempo acaba se acomodando de forma tranquila, cada uma, no seu jeito de criação. A criação com apego trata-se basicamente de uma criação consciente e ativa onde o bem estar integral da criança é tratado principalmente com empatia.
A criação com apego, também conhecida como “Teoria do Apego” é estudade a mais de 60 anos por pesquisadores e psicólogos que cuidam do desenvolvimento infantil e estes estudos revelaram que o bebê possui 3 necessidades básicas: proteção, previsibilidade e proximidade. Quando estas necessidades são atendidas, a criança se desenvolve de forma plena e feliz.
Quais os princípios da criação com apego?
Existem 8 princípios da criação com apego, que não se tratam de regras, mas sim orientações que ajudam os pais a desenvolver com os filhos um relacionamento saudável a amoroso.
1. Se preparar para a gestação, nascimento e criação
Se preparar para a gestação e nascimento, vivenciando o momento com empoderamento buscando se informar e refletir a respeito das experiências e crenças atuais sobre paternidade e explorar filosofias de criação. Se preparar para a gravidez fisicamente e emocionalmente, cuidando da alimentação e saúde e evitar o stress sempre que possível. Se empoderar a respeito do parto e da amamentação para tomar decisões conscientes.
Fortalecer o relacionamento com seu parceiro(a) ou familiares que lhe ajudarão a criar o seu filho. Pesquisar sobre cuidados e rotinas com o recém-nascido, buscar apoio de uma doula (se possível) para te acompanhar no parto e pós-parto e se preparar para evitar intervenções desnecessárias no bebê estando bem informada sobre os processos.
Buscar sempre se instruir sobre desenvolvimento, ter expectativas realistas para pais e filhos, ser flexível, conversar sobre as preocupações antes delas virarem crises, se informar sobre opções de ensino e finalmente resolver internamente questões de abuso e negligência que você possa ter vivenciado na infância buscando ajuda profissional, afim de evitar reproduzir inconscientemente nos filhos as mesmas atitudes. Leia outro artigo interessante aqui: Bebês: Desenvolvimento de 1 a 2 Anos de Idade
2. Alimentar com amor e respeito
Todos sabemos que a amamentação é o início de uma alimentação que além de nutrir fisicamente de forma suprema, também oferece aconchego e segurança para o bebê quando ele busca o peito da mãe. A amamentação é a primeira vez em que o bebê tem contato com o sentimento de amor materno, pois é ali que ele encontra aconchego, segurança, alimento e tem seus desejos de sucção atendidos.
Amamentar em livre demanda para atender o bebê é uma das primeiras formas de alimentar com amor e respeito. Para as mães que precisaram incluir o leite artificial na dieta do bebê fazendo a alimentação mista ou as que não puderam amamentar, a forma como este alimento é oferecido também pode ser feita com amor e respeito. Segurando o bebê próximo ao peito e olhando para ele enquanto o alimenta.
Conversar amorosamente com o bebê e tentar simular esta alimentação como se fosse no peito: trocando o bebê de lado, observando os momentos em que o bebê sente fome em vez de determinar horários rígidos para oferecer o leite. Associando o momento de alimentar artificialmente com o momento de atenção exclusiva.
Para os bebês que não mamam no peito e que usam chupeta para atender sua necessidade de sucção, este uso pode ser feito no colo como se o bebê estivesse vivenciando um momento de sucção não nutritiva no peito. E evitar usar a chupeta como um objeto de transição e até mesmo quando o bebê faz outras coisas como brincar e interagir com as pessoas. O desmame do peito e da mamadeira devem ocorrer de forma gentil, pesquise sobre desmame gentil e seus benefícios. Veja aqui: Como estou fazendo o desmame gentil com meu filho.
Respeitar o tempo do bebê para introdução de alimentos sólidos (veja Precisa dar água para bebês amamentados exclusivamente? e saiba mais sobre isso), desenvolver uma alimentação saudável e nutritiva, ter momentos de alimentação em família para estarem juntos em conexão e respeito.
Entender que crianças nem sempre conseguem ficar muito tempo a mesa e respeitar essa necessidade, evitar forçar a alimentação ou fazer trocas, punir ou dar recompensas com o alimento. Em vez de restringir certos alimentos, ter em casa apenas opções saudáveis e deixar que a criança opte por alguma delas e ensinar a se alimentar apenas quando estiver com fome e parar quando estiver satisfeito.
3. Responder com sensibilidade
A “Presença presente” é basicamente você estar presente para o seu filho emocionalmente, dando atenção, brincando, conversando, interagindo de todas as formas possíveis e atendendo sua necessidade emocional de presença e atenção dos pais. Responder com sensibilidade significa atender emocionalmente o bebê e a criança.
Esqueça os palpites e os mitos a respeito de dar atenção demais mimar a criança e siga seus instintos, eles irão te guiar sobre o que você realmente precisa fazer. Dê respostas consistentes e de forma amável para que o bebê e a criança se acalmem, pois, eles não sabem se acalmar sozinhos.
Entenda o ritmo natural do seu filho para estar com outras pessoas, não os force a estar ou abraçar pessoas que eles não tem contato ou nenhuma ligação emocional. Dê bastante contato físico como abraços, beijos e carinho no seu filho, eles precisam constantemente disto e pra eles o contato físico é uma resposta de amor.
Durante uma explosão de raiva do seu filho, se mantenha calma e tente confortar seu filho sem puni-lo para que ele se acalme rapidamente. Demonstre interesse pelas brincadeiras e atividades do seu filho. Nutra uma conexão próxima, respeite os sentimentos do seu filho e tente entender o que há por trás de determinados comportamento. Tenha empatia.
4. Use um contato afetivo
Ter contato afetivo com seu bebê ou até mesmo um filho maior significa promover um desenvolvimento de vínculo seguro. Bebês principalmente tem necessidade de interagir fisicamente para se sentirem amados, seguros e estimulados. O contato estimula o crescimento, desenvolve intelectualmente e a coordenação motora, regula a temperatura do corpo, diminui seu ritmo cardíaco e melhora o sono.
Bebês que ficam em slings com suas mães por exemplo são mais calmos, choram menos e se desenvolvem melhor, o índice de cólica também diminui em bebês que tem bastante colo. Leia mais sobre isto aqui: Todo bebê precisa de colo, calor e conexão.
Contato pele a pele desde a primeira hora de vida, além de ajudar a estabelecer a amamentação com sucesso supre as necessidades de contato do seu bebê, uso de slings e carregadores que mantenham seu bebê junto a você, massagens, abraços, brincadeiras de contato, ainda assim, dando liberdade para o seu filho.
5. Garanta um sono seguro, fisico e emocionalmente
Cama compartilhada além de ajudar a mãe a descansar nos primeiros meses de amamentação, também garante a seu filho um sono mais tranquilo e seguro. Muitas culturas praticam a cama compartilhada e ela é vista como algo benéfico para a família.
O co-sleeping que é confundido com cama compartilhada também é benéfico e significa basicamente dormir no mesmo quarto que os pais, mas no próprio berço ou com a cama acoplada a lateral da cama dos pais e com uma parede do outro lado ou dois ou mais irmãos dormindo juntos em um quarto separado dos pais. Veja aqui: Sono de bebê e co-sleeping: Dr. Sears explica os benefícios
Atender as necessidades do seu filho a noite como se atende durante o dia também promove um sono emocionalmente mais tranquilo. Ajude seu filho a reconhecer quando esta cansado e com sono e a entrar no sono mamando ou ao seu lado com histórias e uma rotina tranquila. Entenda mais sobre o padrão de sono dos bebês aqui: Amamentação noturna e o padrão de sono dos bebês.
6. Cuidado consistente e amoroso
Nem todos os pais podem ficar com os seus filhos o dia inteiro, principalmente por causa de nossa licença maternidade e paternidade que são muito pequenas e por isso muitos precisam voltar ao trabalho antes que o bebê esteja realmente pronto para esta separação, infelizmente as vezes a separação é inevitável.
Idealmente, a melhor opção para os cuidados com os filhos é a mãe ou o pai, no caso de ser impossível, ter um cuidador amoroso, atencioso e que estabeleça uma relação de confiança com a criança é fundamental. Estabelecer esta relação demanda tempo e por isso é importante se preparar para a mudança algum tempo ante dela acontecer.
Quando os pais assumem este cuidado é importante que tanto cuidadores quanto pais estejam em harmonia com o estilo de criação da família para darem continuidade na rotina. Entenda que não é o bebê que precisa se adequar a sua rotina, ele é outra pessoa e merece respeito, mas sim a família que precisa se adaptar a um nova rotina incluindo o novo integrante dela e esta nova rotina pode ser flexível e respeitosa tentando atender na medida do possível as necessidades de todos os integrantes.
Evite trocar constantemente de cuidadores para não afetar o vínculo que seu bebê criou com o cuidador, tente alternar a rotina de cuidados entre mãe e pai para que os dois pais sejam participantes ativos dos cuidados. Toda mudança de rotina e de cuidador deve sempre ser feita com carinho, cuidado e paciência.
7. Pratique a disciplina positiva
Trate a todos como você gostaria de ser tratado. Esta regra serve para seus filhos também. Empatia é a palavra chave neste princípio e a essência dele. O que significa que palmadas e castigos estão fora de cogitação dentro da criação com apego e não serve para nada, além de te afastar do objetivo principal que é estabelecer um vínculo de amor e respeito.
Ainda que você tenha sido criado apanhando e ficando de castigo, se pergunte o quanto isto foi benéfico para você e quais os sentimentos que você experimentou nestes momentos, a resposta certamente não será das melhores. Veja aqui: Uma geração que apanhou dos pais e sua tralha emocional
Cortar esta corrente é um grande passo e exige muito esforço, mas é possível. Disciplinas duras, manipuladoras e violentas interferem no relacionamento de confiança entre pais e filhos. A disciplina positiva envolve distrair, prevenir, substituir, entender necessidades por trás de comportamentos e guiar amorosamente os filhos de forma que suas necessidades sejam atendidas. Ser um exemplo em comportamentos e atitudes, lembre-se sempre que crianças aprendem mais observando nossas atitudes do que ouvindo regras.
Não se esqueça de se desculpar genuinamente com os filhos quando por acaso você derrapar em alguma coisa reconhecendo sempre seu erro, isto aumenta o nível de confiança e respeito e os ensina que todos podemos errar, mas que podemos também consertar nossos erros e tentar mudar. Veja mais sobre isto aqui: O que é disciplina positiva?
8. Tenha uma vida pessoal e familiar equilibrada
Tentar encontrar equilíbrio entre sua vida pessoal e familiar por vezes é uma tarefa difícil e que exige muita criatividade e flexibilidade entre todos os membros da família, idealmente nenhuma família consegue ser equilibrada o tempo inteiro e momentos de tensões e falta de necessidades atendidas em função de outros membros podem acontecer até mesmo de forma frequente.
É importante tentar criar o mínimo de equilíbrio para que a família seja saudável e seus membros felizes, isto significa que as vezes precisamos ceder em algumas coisas para poder alcançar outras e todos precisam estar juntos nestes momentos.
Buscar ajuda e suporte é importante para aprender a lidar com os desafios da maternidade e paternidade ao longo do tempo e ajuda sempre será bem vinda, evite abraçar o mundo e fazer tudo sozinha porque todos precisamos de ajuda em algum momento e se for bem direcionada esta ajuda será sempre bem vinda.
Trace metas realistas para sua nova vida e entenda que quanto menor o filho, mais necessidades imediatas ele terá. Priorize pessoas em vez de coisas e tente encontrar momentos para você mesma ou para você e seu parceiro. Uma rede de apoio é sempre importante.
E não se esqueça de sempre, seguir seus instintos, ouvir seu coração e olhar para o seu bebê para tentar entendê-lo. Seja grata e tenha empatia, sempre.
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