Depois de notícias a respeito de óbitos de crianças, muitos pais estão se perguntando se é seguro crianças comerem lichia. A Nutricionista Denise Magarin, fez um artigo informativo onde explica se realmente é seguro crianças comerem lichia e se, de fato, ela é uma fruta tóxica como muitos vem divulgando na internet depois dos casos das crianças na Índia.
* Este artigo foi escrito pela Nutricionista Denise Magarian (Nutricionista pela Faculdade de Saúde Pública da USP e pós graduanda em Nutrição Clínica em Pediatria pelo Instituto da Criança do HCFMUSP) E abaixo coloco para você as palavras da nutri que esclarecem o assunto:
“Ontem a internet foi invadida por mensagens dizendo que O CONSUMO DE LICHIA LEVARIA CRIANÇAS À ÓBITO. Como muitas pessoas vieram me perguntar a respeito, resolvi esclarecer este assunto. O que aconteceu, afinal?
Desde os anos 90, crianças indianas vêm sofrendo de convulsões repentinas e perda de consciência aparentemente inexplicáveis. Nos últimos anos, estudos vêm sendo conduzidos para descobrir o que está acontecendo.
No último dia 30 (há 4 dias) foi publicado um estudo em uma das revistas científicas mais importantes de todo o mundo, LANCET. Neste estudo, os autores concluem que as mortes têm ocorrido por conta do consumo de Lichia.
A partir daí, a informação têm sido repassada de forma irresponsável através de facebook e correntes de whatsapp, onde a “orientação” (de quem, nós não sabemos) é que não se dê Lichia a crianças pois pode levar à morte. Mães têm se preocupado e até mesmo a compra de Lichia foi impactada por conta desta informação. Então, vamos esclarecer alguns pontos?
A fruta Lichia contém naturalmente duas substâncias chamadas Hipoglicina e MCPG. Elas têm sido categorizadas como “toxinas”, mas na realidade apresentam o potencial de baixar os níveis de glicemia (açúcar no sangue) através da interrupção da gliconeogênese e da beta-oxidação de ácidos graxos.
Já dizia Paracelso: “Só a dose faz o veneno.“
A Índia é um dos maiores produtores de Lichia no mundo. As crianças afetadas moravam nos arredores de pomares de Lichias e na época da colheita consumiam estes frutos em demasia, provavelmente sobretudo os frutos não maduros, que não poderiam ser vendidos, os quais aparentemente apresentam maior quantidade dos compostos acima.
Os pais destas crianças relatam que, por passarem a tarde toda comendo Lichia, estas chegavam em casa e não tinham vontade de jantar, indo para a cama de barriga vazia, com exceção das Lichias consumidas. Ainda, é sabido que estas crianças eram de camada mais pobre da população, ou seja, muito provavelmente seu estado nutricional já era comprometido.
Juntando o fato de crianças não apresentarem estoque de glicogênio (açúcar) como o de adultos, terem ido dormir sem jantar (comprometendo ainda mais este estoque já pequeno de açúcar no corpo) e terem comido MUITA Lichia com alto teor destas substâncias, desencadeou-se o quado de “intoxicação” levando em muitos casos à morte.
Interessante frisar que o valor de importação desta fruta a torna bastante cara no Brasil, logo, não é uma fruta tão amplamente e quantitativamente consumida por aqui… Como podemos ver, muitas variantes aconteceram concomitantemente para levar ao quadro exposto.
Desta forma, é bastante equivocado espalhar a informação de que comer Lichia pode matar. O que tudo indica até o momento é que uma quantidade limitada deste fruto em crianças saudáveis e bem nutridas NÃO CAUSA MORTE. O que o estudo sugere é que seria necessário uma quantidade muito grande de consumo atrelado a baixíssimas reservas de açúcar no organismo para causar este efeito.
Inclusive tem sido proposto que, devido a esta particularidade da Lichia (e de outras frutas da família Sapindaceae, como a Jamaicana ackee), quem sabe no futuro cientistas e industria alimentícia/farmacêutica não poderiam isolar tais compostos para auxiliar no tratamento de Diabetes, Síndrome Metabólica e etc.? Por fim, comam Lichia tranquilamente e dêem aos filhos sem preocupação. E vamos tomar cuidado com a informação que repassamos pela internet “
Artigo escrito originalmente em 03/02/2017 – Atualizado em 03/03/2023
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