Você esta passando pela fase dos Terrible Twos?
Ela vem por volta dos 2 anos de idade. As vezes você se pergunta se trata apenas de chilique, choro “a toa”, sem motivo aparente e fica sem entender por quê isto esta acontecendo quando, de repente, a resposta surge: Opa, terrible twos! Você fica mais calma e tem uma certa certeza de quê pelo menos sabendo o nome, logo passa.
A criança começa a ter uns repentes de energia acumulada e a passar por algumas catarses que testam seus limites e te deixam exausta.
O nome todo mundo conhece, que os terrible twos acontecem por volta dos 2 anos e duram uns bons meses também. Mas você sabe porquê isto acontece?
Você olha para o seu filho e tenta entender quais são suas reais necessidades? Estou falando daquele olhar atento, olho no olho, ouvidos ligados no que seu filho fala ou choraminga?
Você presta muita, mas muita atenção mesmo no comportamento dele? Nos padrões de comportamento e nas mudanças que acontecem? Se pergunta o que aconteceu de diferente em determinado dia para que aquele determinado comportamento viesse a tona?
Já tentou fazer este exercício? É como ser uma investigadora-analista-psicóloga-etc. Sim, mãe vira tudo isso e mais um pouco.
A verdade é que as vezes mães não prestam este tipo de atenção nos filhos. Não é uma acusação. É vida agitada, é muita coisa para fazer e muito pouco tempo. É cansaço, é exaustão. É um monte de coisa que pode tirar o foco do seu filho e as vezes o que você mais precisa é tirar o foco mesmo.
A verdade é que tentamos tanto conseguir fazer tudo, que pode ser que um dia ou outro a gente não tenha prestado atenção direito em como nosso filho acordou, como reagiu com algumas mudanças ou de onde veio aquele mini mau humor que toca o terror na casa inteira.
Eu sempre disse que quando o bebê e a criança chora, ele esta tentando se comunicar com sua mãe. Ele tem algo a dizer e você precisa ouvi-lo. É isso.
Mas, eu não consigo decifrar o choro!
Logo você aprende. Quanto mais você atende e acolhe seu filho no choro, mais expert você fica em decifrar todo tipo de choro. Quando a criança cresce um pouco mais e aprende a falar, geralmente a gente continua não ouvindo.
Mamãe, mamãe, mamãe…
Já tô indo, filho!
E você demora. E isto irrita. Você já ficou esperando alguém que você tenha chamado para mostrar algo incrível e esta pessoa ficou demorando? Foi chato, né?
Você senta para brincar com seu filho mas não esta ali de verdade, esta com o celular na mão. As vezes nem olha pra ele. Se for como eu, vai estar com uma mesa cheia de trabalho para entregar e ter que dividir sua atenção com o filho que te interrompe a cada 3 minutos.
Eu sou interrompida a cada 3 minutos.
Eu tenho trabalho para entregar, meu filho tem brincadeira para brincar. Ele quer minha atenção, eu preciso focar em outras coisas em alguns momentos do dia. Como fica esta conta? Como equilibrar a balança para que todos saiam ganhando?
As vezes algo se perde.
As vezes eu preciso entregar o trabalho, você precisa terminar o seu trabalho, resolver algum problema, fazer um mercado pelo telefone senão nem janta tem pra oferecer. A gente tem que continuar levando a vida e dando conta do recado, administrando tudo ao mesmo tempo em que tenta ser uma boa mãe.
Eles não entendem. Eles não precisam entender e então eles explodem. Eles são crianças.
E então, saí da frente minha amiga materna. É criança se jogando no chão esperneando, gritando ao infinito e além no nosso ouvido. Você fica tão abismada que nem sabe de onde veio. A tolerância deles ao serem contrariados é muito menor que a nossa. A intensidade do protesto muito maior.
Vamos falar sobre desenvolvimento e os terrible twos.
Aqui eu brinco com o meu filho: filho, você esta tendo um chilique? Ele responde: sim mamãe, é chilique. Não temos o menor preconceito em usar a palavra chilique, com nenhum de nós. Eu vivo tendo uns chiliques também, já até demos risada disto juntos. A diferença é que eu entendo aqui o porque isto acontece e como agir para tornar tudo melhor em vez de ignorar. Se a palavra te incomoda, melhor não usar. 😉
Os terrible twos faz parte de uma desorganização neurológica temporária. O sistema límbico da criança esta em desenvolvimento. Isto acontece pelo menos até os 5 anos de idade e ele é responsável pelas emoções. O maior pico de desenvolvimento acontece por volta dos 2 anos de idade. Xii, percebeu?
Neste momento existem uma série de catarses para reagir as coisas que acontecem na vida. A catarse nada mais é do que uma explosão de sentimentos. Ou seja, ela é exagerada e intensa.
É quando alguém libera todo o acúmulo que foi juntando no peito ou as vezes quando essa pessoa perde a medida de como expressar tanto sentimento e exagera na dose, sacou? E é exatamente isto que acontece com seu filho. Ele esta exageradamente sentindo tudo de uma forma bem intensa.
Ele ainda não tem controle do seu sistema límbico. Diferente da gente que tem um sistema límbico completamente desenvolvido e treinado para este tipo de reação. Mas vou te dizer que até a gente perde as estribeiras as vezes, né? Sei lá, acho que dá uma pane por dentro mesmo.
O legal disso é que este é o momento perfeito para você ensinar seu filho a lidar com toda estas emoções que o deixam fora de controle.
Porque é na vivência diária no meio do furação e do sistema límbico em formação que ele vai absorver o que precisa. Nada como colocar em prática a teoria, não? Momento perfeito. É difícil pra gente que vive no limite da exaustão, mas te garanto que vale a pena se esforçar.
E o Neocórtex, conhece?
É a parte do cérebro que comanda a razão e o discernimento controlando os instintos e emoções exageradas (opa, lembra do sistema límbico ali em cima?) Ele começa a se desenvolver a partir do nosso nascimento e só dá uma acelerada no desenvolvimento depois dos 5 anos de idade, continuando seu desenvolvimento até a idade adulta.
Opa, se ele começa a se desenvolver de forma mais acelerada a partir dos 5 anos, quer dizer que crianças menores que esta idade além de sofrerem com as catarses que o sistema límbico causa, não conseguem pensar racionalmente e entender os “por quês” algumas coisas são como são? Pegou?
Acrescenta a tudo isto o fato delas não terem autocontrole suficiente para seguir algumas “regras” e entrarem em “tilt” quando são contrariadas. O que temos? Uma crise de Terrible Twos!
E como lidar com mais esse desafio materno?
Se com 2 anos de idade o seu filho ainda mamar no peito, amamentar pode ser uma boa, pois irá liberar ocitocina em seu corpo e baixar os níveis de cortisol, fazendo o fluxo sanguíneo voltar para o neocórtex.
Crianças que não mamam mais no peito podem ser acalmadas com abraços, beijos, basicamente o toque amoroso que também é capaz de liberar ocitocina e fazê-las se sentirem melhor e mais calmas. Abraço e beijo de mãe é como respirar fundo e contar até 10 pra eles.
Respirar fundo, literalmente. O meu filho já aprendeu a técnica e quando esta chorando, bravo ou caiu, além de correr para a mamãe para ganhar carinho e beijo, ele mesmo diz depois que o susto passou: “Ufa, respirei fundo”. Ou eu falo pra ele: Filho, respira fundo!
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Ignorar, bater, gritar ou dar outro chilique como resposta (atenção aqui que seu neocórtex já esta totalmente formado, viu? O do seu filho é que não) só vai piorar a situação e fazer seu filho ficar mais nervoso ainda já que não consegue se acalmar.
Desenvolvimento infantil leva tempo e por mais que muitos tenham uma mania de querer apressar tudo, é preciso esperar e respeitar o tempo da criança. Começar não exigindo dela uma atitude que ela é incapaz de ter com sua pouca idade é uma destas coisas. Tentar administrar as crises com colo, empatia, voz calma e amor é uma outra estratégia.
Você já percebeu que quando alguém chega desesperado gritando pra você e você tem uma reação morna e tranquila para responder determinada pessoa, ela as vezes se espanta e geralmente se acalma também? Claro porque ela não te vê como uma ameaça a ela mesma. A idéia não é fazer seu filho te enxergar como uma ameaça quando ele estiver tendo uma crise, mas sim como apoio e porto seguro.
Já falei sobre disciplina positiva, criação com apego e até sobre palmadas nos filhos. O artigo sobre palmadas foi o que deu mais polêmica porque algumas pessoas simplesmente não conseguem conceber uma situação de vida onde não precisem usar a violência para resolver suas questões educacionais em casa e isto é bem triste.
Confira aqui o artigo: Seu filho precisa apanhar? Então o problema é você.
Não tem como fugir, provavelmente seu filho ao longo do desenvolvimento irá passar por crises e vai perder o controle, principalmente e em maior intensidade nesta fase de 2 a 5 anos de idade.
Entender que faz parte do seu desenvolvimento e compreender que o desenvolvimento em si não é algo que se apressa, que devemos dar tempo ao tempo para que as coisas se ajeitem vai te ajudar um bocado neste caminho.
Levar em consideração que vínculo e afeto são construídos ao longo deste caminho, por vezes tortuoso, principalmente para os pais que não tem ajuda na criação, e que, este vínculo e afeto são construídos também com ações positivas, acolhimento e amor pode salvar a relação que você quer construir com seu filho hoje e para sempre, bem como salvar as relações futuras dele com outras pessoas.
Olhar atentamente para esse pequeno ser em formação e tentar entender seus motivos e o que causou o estopim da crise vai te deixar com um controle maior da situação e você saberá resolver de forma mais amena.
Eu sempre tento negociar o que é possível ser negociado. Dar ao meu filho um certo controle sobre as situações lhe dando até duas opções para escolher entre uma delas (estas duas opções são sempre as que eu defino como melhores ele escolhendo qualquer uma das duas). A estratégia é mostrar pra ele que você o ouve, o entende e tem confiança suficiente para deixá-lo participar da tomada de decisão.
Em outra situações me abaixo na altura dele, olho no olho e pergunto: Filho o que esta acontecendo?
Conta pra mim que eu te ouço. Funciona e eles entendem. Escrevi mais sobre isto aqui: Porque eu me abaixo para falar com meu filho.
Por outro lado, te proponho um desafio maior. Tem gente que se incomoda com a palavra chilique, birra, manha…mas terrible twos? Não é tão pejorativo quanto?
Vem ver o que escrevi sobre isto aqui: Wonderful Twos: maravilhosos 2 anos.