A amamentação para a nova mãe além de todos os benefícios nutricionais e emocionais para o bebê, também pode ser a superação de conflitos internos de uma mãe que não foi amamentada de forma ideal.
Esta superação de conflitos internos podem ser tanto o desejo latente de oferecer para o filho uma amamentação bem sucedida a qual esta mãe não teve como também o desejo de seguir os passos da própria mãe em uma amamentação de sucesso, reafirmando assim suas capacidades maternas.
É normal a nova mãe questionar sua relação com sua mãe depois da maternidade. Parece que os olhos se abrem e você ou se decepciona ou se sente feliz com a mãe que teve. A maioria se decepciona e tenta ser melhor. Faz parte da vida essa busca e pode curar antigas feridas também.
É justamente neste momento que você pode ser sabotada pelo passado ou superá-lo.
Essa busca e desejo é inconsciente e geralmente não nos damos conta do quanto essas relações antigas podem afetar ou não nossa história de amamentação. Se você teve uma história de amamentação feliz com sua mãe, com um desmame bem direcionado de forma gentil e respeitosa, é certo que os sentimentos que terá a partir daí para vivenciar a mesma história com seu filho estará sustentado sob boas lembranças e a vontade de repetir uma história feliz.
Se sua relação de amamentação com sua mãe não foi das melhores, e neste aspecto esta a grande maioria das mulheres de nossa geração, a amamentação pode ser para você a superação ou a auto sabotagem.
“A mulher que amamenta seu filho esta revivendo inconscientemente sua própria amamentação. Se esta foi feliz, se sentirá satisfeita em repetir a mesma experiência satisfatória com seu filho. Se foi muito conflituosa, muito angustiante, pode ocorrer que velhas lembranças, ao ressurgirem no inconsciente, criem obstáculos ao aleitamento e até impeçam-na de todo, desaparecendo a ejeção do leite. Mas pode ocorrer também o contrário: que a mulher consiga sobrepor-se a seus velhos conflitos e encontre na amamentação um meio adequado de superar suas frustrações passadas e esquecer antigos ressentimentos e reivindicações, ao identificar-se com seu filho satisfeito e com uma mãe ideal.” Marie Langer, psicanalista.
É na maternidade que você como mãe se apodera de quem realmente é e estava escondido lá no fundo. A mãe re-nasce, de verdade.
Marie Langer afirma que uma das razões que impedem a amamentação para uma mulher geralmente é causada pelo desejo desta nova mãe em permanecer em uma atitude receptiva e infantil e estes casos podem se dar pela insatisfação oral destas mães que inconscientemente se negam a dar a seus filhos aquilo que lhes foi negado, tendo também uma reação agressiva com a própria mãe. E assim o ciclo se perpetua e a nova mãe trata o bebê como foi tratada em sua primeira infância.
A mesma autora, como vimos acima afirma que se a mãe se identifica com seu bebê, consegue superar as frustrações sofridas e ter sua amamentação facilitada pelo desejo de persistir. Assim, amamentar o filho se torna não apenas superação dos conflitos internos mas também cura.
Persistir para ter uma amamentação de sucesso com o filho faz parte do desejo em se identificar com a mãe ideal, aquela que não se teve e que alimenta bem.
Assim, esta nova mãe consegue satisfazer seus desejos infantis frustrados por não ter conseguido mamar ou ter sofrido um desmame abrupto, dando ao filho aquilo que não teve. E é na identificação com a mãe ideal, que a nova mãe consegue ter uma história de amamentação feliz e satisfatória, se conduzindo para um desmame gentil e respeitoso com o filho.
A mãe a partir do nascimento do filho se vê em um momento de reestruturação emocional e com o desafio de conciliar os novos e antigos papéis, além de ter a chance de superar conflitos internos de forma harmoniosa, amadurecendo a partir dali.
E por fim, Marie Langer afirma que se a mulher consegue vivenciar seu parto sem muita angústia e dentro de suas capacidades, recupera a confiança em si mesma, desfaz a identificação com a criança indefesa se convertendo em mãe ativa e eficaz, se libertando assim do estado de regressão mais intenso e a deixando pronta para se relacionar da melhor forma possível com seu bebê.
Para muitas mães, a relação de amamentação é a melhor forma para se vincular ao bebê, se curar de antigas feridas superando as frustrações do passado e se reconstruir com essa nova relação de forma ativa, empoderada e segura de si e suas capacidades.
Referências bibliográficas: LANGER, M. Maternidade e Sexo. Porto Alegre: Artes Médicas, 1981 e 1986 | FREUD, S. Três Ensaios Sobre a Teoria da Sexualidade. Edição Standard brasileira de Obras Completas. Vol III. Rio de Janeiro: Imago, 1972
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