Desmame é um assunto bem doloroso para muitas mães. Hoje quero dividir com vocês como estou fazendo o desmame gentil. Eu pensei em escrever o que era desmame gentil, mas acho que as mães sabendo como estou fazendo vai ser mais claro ainda do que simplesmente dizer do que se trata este tipo de desmame.
Eu espero sinceramente que estas informações te ajudem de alguma forma e te mostre que nem tudo que é feito na idade em que a criança esta preparada é tão difícil assim. Ainda que nós como mães nos sintamos tristes e as vezes até culpadas.
O desmame gentil é quando você direciona o desmame do seu filho ao perceber que ele esta preparado para esta mudança na relação entre vocês dois. Dizemos “gentil” porque ele respeita o tempo da criança para processar essa mudança e não é agressivo nas estratégias.
Por exemplo: você não vai deixar seu filho chorando querendo peito para que ele desmame e nem vai passar nada no seu peito, viajar, brigar por ele querer mamar ou inventar mentiras a respeito DE como o “mamá dodói”. Iniciamos após os 2 anos de idade porque é quando a criança pode se mostrar preparada para o desmame e seguindo as orientaçãos da Organização Mundial de Saúde e da Sociedade Brasileira de Pediatria.
Nem toda criança de 2 anos esta preparada para o desmame e precisa de mais tempo. Raramente crianças com menos de 2 anos desmamam naturalmente. Entenda mais aqui: O ciclo de problemas: chupeta, mamadeira e baixa produção de leite materno.
No meio do processo eu me dei conta de 3 coisas importantes sobre o desmame gentil:
1. Eles aprendem a dormir de outro jeito. Depois dos 2 anos ou mais, as crianças começam a dar sinais de quê sabem dormir de outro jeito e aceitam dormir com o pai, avó, tia e qualquer outra pessoa que possa te ajudar nisto. Aqui na minha casa, criamos a rotina do pai ir contar história na hora do sono e funcionou muito bem. De qualquer forma, o pai precisa criar um relacionamento com o filho para que ele se sinta confiante e animado em aceitar essa nova modalidade de sono.
2. Sim, pode ser tranquilo e gentil, mas haverá um certo protesto em algum momento e você vai se sentir mal por isso. Mesmo sabendo que já cumpriu sua missão. Manter o foco e usar e abusar de distração vai te ajudar muito. As vezes durante o desmame gentil seu filho vai pedir o peito algumas vezes e algumas vezes você irá oferecer normalmente.
Quando chegar em um momento (e você vai perceber este momento) em quê você se deu conta que ele, na verdade, não precisa do peito aquela hora. E, que o pedido esta acontecendo simplesmente por que seu filho estava acostumado a pedir em determinadas horas, o melhor que você pode fazer é distraí-lo para outra atividade. Em grande parte dos casos, funciona muito bem. Se o protesto for grande, amamente e tenha paciência, talvez ele precise de mais tempo para esta estratégia.
3. A presença e parceria do pai ou de alguém para intermediar essa relação que esta mudando é fundamental para que as coisas caminhem melhor ainda. Fazer o desmame gentil sozinha é mais difícil e complicado do que quando se tem ajuda de alguém que a criança já tem vínculo afetivo. Pode ser a tia, a avó, o tio ou uma amiga querida que se disponha a te ajudar.
Isto porque existe uma relação que seu filho conhece ao seu lado que é a da amamentação e pode ser que ele não aceite outro tipo de atividade naquela hora que, na cabeça dele, ele deveria estar mamando. Mas ele pode aceitar muito bem fazer uma outra atividade neste mesmo horário com outra pessoa. Aproveite muito esta estratégia se você tiver alguém ao seu lado para isto.
Ok, mas e quais as dicas práticas do processo de desmame gentil?
Antes de qualquer coisa, é preciso ter sensibilidade para perceber se o seu filho esta preparado para iniciar este processo. Escrevi um artigo sobre: 10 sinais de um desmame natural. Este artigo indica sinais de desmame natural, mas ele também é um indicativo para perceber se a criança esta preparada para o desmame gentil.
Vamos as dicas:
1. Não ofereça o peito, espere que seu filho peça para mamar.
A gente cria uma mania de ficar oferecendo peito para tudo: caiu, chorou, esta com sono. Pare de oferecer, espere que ele peça e se ele não pedir, simplesmente deixe passar batido.
2. Evite os locais de amamentação.
A gente sempre tem um local na casa que amamenta mais vezes que nos outros, tipo o sofá com o filho, a almofada no chão do quarto dele, a cama. Evite estes locais porque sempre que seu filho te ver ali, vai lembrar do peito.
3. Distraia.
Se o seu filho pedir o peito, tente distraí-lo com outra atividade. Simplesmente se ofereça para brincar com ele naquele momento ou fazer alguma coisa que você sabe que ele gosta muito.
No caso de ser uma mamada que antecedia o lanche ou vinha depois do lanche, capriche no lanche ou ofereça uma novidade nesta hora, assim descartamos o peito neste momento como complemento do lanche.
Se houver protesto, amamente. A idéia não é deixar chorando, mas trocar uma atividade por outra amigavelmente.
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4. Diminua o tempo de mamada.
Meu filho não mamava mais por fome ou consolo. Ele aceitava normalmente ser consolado sem peito, com abraços e beijos, conversas e carinho. Ele mamava porque se tornou um hábito dele em certos horários e porque ele gostava de dormir sugando. Tanto que minha produção já tinha se reduzido drasticamente depois de 2 anos e meio.
Então a estratégia aqui foi reduzir o tempo de mamada que era de 5 minutos ou menos, para 1 ou 2 minutos e conforme o tempo foi passando, menos tempo.
5. Crie um sinal para interromper a mamada.
Não adianta fazer uma redução sem mais nem menos no tempo de mamada sem que a criança perceba o que acontece depois. Aqui eu criei um sinal para que ele soubesse que encerramos o tempo de mamada. Como ele mamava mais para dormir, passei a dar dois toques na minha mama perto da boca dele, gentilmente avisando: “agora chega de tetê, vamos dormir juntinhos“.
Ele entendeu o recado e toda vez que eu fazia isso no peito, ele largava o peito, virava para o canto e dormia ou me abraçava e dormia. Tiveram dias que ele rejeitou o sinal e quis mamar mais, ok. O importante é você manter a consistência de ação e fazer sempre o sinal.
6. Deixe as mamadas mais importantes para um segundo momento.
Aqui as mamadas mais importantes eram para dormir a noite e de manhã quando acordava. Então primeiro eu apliquei todas as técnicas nas mamadas do dia, que eram 3 mamadas. Depois que as mamadas do dia foram praticamente esquecidas no meio de todas as outras atividades, parti para a mamada da manhã levantando mais cedo que meu filho e chamando ele para tomar o café da manhã. Por último veio a mamada da noite para dormir.
7. Não facilite o acesso ao peito.
A gente começa a ter uma mania de escolher roupas que facilitem a amamentação e isso vira uma rotina. Começar a usar roupas que não dê acesso direto ao peito pode ser uma boa estratégia.
Algumas vezes eu simplesmente disse ao meu filho: “ahh amor, agora não dá para o tetê sair porque ele esta aqui dentro guardado na roupa dormindo, olha” e mostrei que não dava para tirar o peito para que ele mamasse. Como ele já esta preparado para o desmame, ele entendia a desculpa lúdica que inventei (tetê esta dormindo) e ia fazer outra coisa sem lamentar por isso.
Algumas situações podem dificultar um pouco o processo:
Aqui não fazíamos cama compartilhada, o meu ia para a minha cama apenas de manhã, desde os 3 meses e meio ele sempre dormiu noites inteiras no próprio quarto tranquilamente. Então se você faz cama compartilhada, considere antes de qualquer idéia de início de desmame, apresentar o quarto do seu filho para ele aprender a dormir lá.
Pode facilitar todo o processo. Mas não faça isso junto, primeiro uma mudança superada, depois a outra, ok? “Ah, mas quero continuar com a cama compartilhada mesmo fazendo o desmame gentil.”
Neste caso, talvez seu processo de desmame noturno seja mais longo e talvez seu filho peça para mamar mais vezes durante a madrugada para compensar o tempo de dia que não mamou. Considere estas situações e tente aplicar as técnicas, principalmente a de diminuição de tempo de mamada também nestes horários.
Quando a criança não frequenta a escola, pode ser mais díficil o desmame durante o dia porque sempre que ela tiver um momento com você vai considerar estar mamando. Aqui meu filho vai para a escola por meio período durante o dia desde os 2 anos e 6 meses e por isto, neste período, além dele ficar bem na escola e esquecer que o peito existe, eu tinha este período de descanso do desmame, mesmo porque o desmame nos cansa emocionalmente.
Em alguns momentos (não todos) seu filho pode ficar bravo com você sem motivo e/ou pode desenvolver uma preferência pelo pai em detrimento de você neste período.
É sem perceber que este sentimento toma conta dele e faz parte do processo de amadurecimento onde uma relação tão intensa como a da amamentação esta chegando ao fim.
>> Confusão de Bicos: O Que É e Como Prejudica a Amamentação
Mantenha sua posição dando muito amor, carinho, atenção e se colocando a disposição emocionalmente do seu filho, mesmo quando ele te rejeitar.
Sobre cansaço emocional durante o desmame gentil
Você vai se questionar, se perguntar se esta fazendo a coisa certa e se é uma boa mãe por isto. Ainda que você sinta que cumpriu sua missão e ainda que queira você só para você mesma a partir disto, ainda assim você vai se questionar e se sentir culpada pelo desmame, isso faz parte do processo.
Talvez você pense em desistir, mas talvez quando você pensar isso, vai se dar conta que esta quase acabando o processo.
Veja >> Criação com apego: o que é e seus 8 princípios
Seja sempre honesta com você mesma e com o seu filho. Eu conversei honestamente com o meu filho, creditando a ele a capacidade de entender e ter empatia por mim e disse que estava cansada de amamentar e que eu sabia que a gente podia fazer outras coisas mais legais do que isso agora que os dois já tínhamos crescido um pouco. Ele entendeu. E assim surgiu uma brincadeira em casa chamada “corrida do beijo na barriga”.
Ele sai correndo pela casa e eu corro atrás dele falando que vou dar muitos beijos na barriga. Lembre-se de criar novas relações como brincadeiras e atividades para substituir a mamada.
O desmame gentil leva tempo, não apresse as coisas ou tente fazer isso em um tempo menor do que o seu filho estaria preparado. Vá tateando a situação e vendo como ele vai reagindo, se tiver que dar um passo para tráz, dê. Se achar que pode avançar, vá sem medo.
Faça o desmame gentil quando esta for uma decisão única e exclusivamente sua.
Não de parentes, amigos ou qualquer pessoa que esteja te pressionando e palpitando em sua amamentação. Esta decisão cabe apenas a você e quando você também estiver preparada para isto.
UPDATE
Relato de Desmame Gentil: Uma Nova História Começa
Agora que você viu como fazer o desmame e como eu fiz, quero te contar abaixo o resultado.
Antes de fazer meu relato de desmame, quero contar a minha história de amamentação e maternidade. Amamentei exclusivamente até os 6 meses. Não usei chupetas e mamadeiras. Fiz uma introdução alimentar saudável aos 6 meses.
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Tentei engravidar por 1 ano antes de conseguir, e eu não imaginava aonde eu estava amarrando meu burrinho, no bom sentido, é claro. De lá pra cá foram só mudanças e mais mudanças na vida, reconstruções diárias que doeram bastante em vários sentidos.
A única coisa na minha maternagem que sempre foi perfeitamente linear e que eu sempre tive segurança e certeza foi em relação a minha amamentação. Tive muita sorte, pois nunca tive problema algum para amamentar. Meu leite desceu algumas horas após minha cesárea (necessária), meu filho mamou na hora de ouro, na primeira hora pós-parto e sempre fez a pega perfeitamente bem.Sempre tive leite excedente e fui doadora por muitos meses depois do nascimento do Fe.
O pós-parto obviamente foi destruidor.
Eu acordava de 1h em 1h para amamentar, o Fe não dormia de dia e queria colo o tempo inteiro. Não tenho família por perto e nem sempre minha mãe podia estar comigo. Dormi sentada, amamentei deitada, fui ao banheiro carregando ele no colo várias vezes, comi com uma mão só uma comida fria.
Em alguns dias não consegui tomar banho e dormi sem, estava cansada demais para perder tempo tomando banho. Em outros tomei banho correndo com o Fe chorando incansavelmente no colo do pai que não sabia o que fazer com aquele RN nas mãos.
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Fiz um tempo de dieta restritiva de leite e derivados porque o Fe tinha um refluxo intenso, não doença, mas intenso o suficiente para ser um RN chorão, mal humorado e que não podia deitar que golfava e vomitava em jatos muito leite.
>> O que é refluxo em bebês: tipos de refluxo e como aliviar
Apesar de tudo, em nenhum momento pensei em desistir de amamentar.
Meu marido sempre me apoiou em todas as decisões, dele eu sempre tive incentivo. Eu nunca ouvi dele para desistir, desmamar ou dar outro leite ao nosso filho. O Fe sempre foi um bebê muito mamador. Mamava muitas vezes durante o dia e a noite até os 3 meses e meio, mas os dias continuaram intensos na quantidade de mamadas por muito tempo, até os 2 anos e poucos meses quando finalmente ele começou a mudar de 10, 15 mamadas por dia para 6, depois 4 no máximo.
>> Comportamento de seu bebê quando mama: diferenças entre bebês
O que me faz chegar a este ponto crucial da amamentação e tão importante quanto todo o resto: nosso início de desmame gentil.
É aqui que nossa nova história começa.
De repente o Fe inventou uma nova brincadeira, era a corrida do beijo na barriga. Eu tinha que correr atrás dele para dar beijos em sua barriga e ele saia correndo pela casa pulando, rindo, gritando…feliz. Essa brincadeira se tornou mais frequente que as mamadas e logo notei que ele estava começando a fazer uma troca saudável de relação de mamada com momentos compartilhados comigo.
Antes eu era o tetê, agora eu era o tetê e uma brincadeira nova.
De repente, as brincadeiras aumentaram e as mamadas diminuíram. Apenas observei em silêncio a novidade. Estavamos a mais de 2 anos nessa jornada e eu já estava cansada de amamentar, sim.
Estava me sentindo cansada. Sem culpa alguma por isto, este é um relato de uma mãe real, que cansa sim.
Sinto que cumpri um papel importante até aqui e estava na hora de passarmos de fase. E foi então que eu iniciei o processo de desmame gentil como contei acima. E de repente, depois de todo um processo cuidadoso, cheio de carinho, com muito colo e acolhimento para que esta fase fosse superada da melhor forma possível, o Fe estava a mais de 2 meses sem mamar. Eu já não tinha mais leite como antes. Me sinto vencedora por ter conseguido amamentar por tanto tempo. Foram 3 anos!
>> O desmame não é um evento, mas sim um processo
Ele agora dorme ouvindo história ou pede para que eu cante para ele. Brinca satisfeito, diz que é um “big boy”. Eu estava na dúvida se ele estava finalmente desmamado, quando de repente, um dia desses ele olhou para mim e disse:
– Mamãe, eu não mamo mais o tetê, eu sou um big boy!
Eu respondi: Isto mesmo, filho. E no lugar do tetê você pode ter beijos, abraços, brincadeiras, cheiro e muito colinho da mamãe. Ele me abraçou bem grande e eu fiquei muito aliviada e feliz de ter dado tudo certo até aqui. Me senti fortalecida em minha decisão e não mudaria nada desta história.
O que eu espero a partir de agora para mim e para todas as mães é que a gente sempre chegue a este ponto em nossa maternagem: Aquele em que não sentimos culpa pelas decisões tomadas e nem tristeza pelos desafios que temos que enfrentar como mães. E que acima de tudo, todas consigam maternar sempre com muito amor, carinho e respeito.
Artigo escrito originalmente em meados de Maio/2016 – Atualizado em 06/01/2023
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