A amamentação noturna é um dos desafios maiores da amamentação. Muitos assuntos passam pela nossa cabeça quando pensamos em amamentação noturna x desmame noturno, porque quando estamos falando de bebês que acordam de madrugada a ponto de deixar mães exaustas, temos muito o que pensar, como:
- A idade deste bebê
- O quanto a amamentação já esta estabelecida
- Como tem sido a rotina do bebê diariamente
- Oque mudou na vida do bebê
- Como a mãe tem encarado esta rotina noturna
- E finalmente, porque este bebê deveria estar dormindo como os adultos?
A princípio, é preciso esclarecer que a amamentação noturna é importante para o bebê. Segundo o Dr. Carlos Gonzalez, durante a noite os níveis basais e os picos de prolactina quando o peito é estimulado são mais altos que durante o dia, o que ajuda na manutenção da produção. É um mito a idéia de que os bebês a partir do sexto mês não precisam mais das mamadas noturnas.
Elias e Cols. observaram que os bebês de peito dormem uma média de 6 a 7h aos 3 meses, no entanto, a partir do quarto mês despertam e mamam com maior frequência, tendo um período mais longo de sono contínuo por 4h em média. A maioria dos bebês precisam das mamadas noturnas até 2 anos ou mais, ainda que isto seja variável.
Os benefícios da amamentação noturna além de estimular a produção no início da amamentação, para os bebês maiores são os mesmos que os benefícios da amamentação do dia e, principalmente, se torna conforto em momentos difíceis para o bebê. A idéia de que se o bebê acorda é porque ele precisa e sua natureza pede é real e deve ser respeitada.
Quando pensamos na idade: Se o seu bebê tem menos de 3 ou 4 meses, tenho duas boas notícias: a primeira é que acordar de madrugada para você e para o bebê significa sobrevivência. Bebês recém-nascidos acordam para mamar porque precisam se alimentar para sobreviver. O estômago deles é muito pequeno, se esvazia muito rápido, o leite materno é digerido muito mais fácil e rapidamente e por isso precisa ser reposto. Sim, até esta idade é fome em grande parte dos casos, fome de sobrevivência.
A segunda boa notícia é que muitos bebês (não digo a maioria) depois de 4 meses passam a espaçar as mamadas e a dormir por 4h direto. Sim, uma média de 4h de sono é uma boa quantidade de sono para um bebê e falarei disto mais a frente sobre ciclos de sono.
A fome de sobrevivência do bebê que acorda nesta idade várias vezes de madrugada também esta relacionada a manutenção da produção de prolactina conforme dito acima. É instintivo, é natural e faz parte do desenvolvimento tanto do bebê quanto da produção de leite da mãe para se estabelecer.
Geralmente algumas mães relatam que quando chegam aos 2 meses, eles começam a dormir bem, pelo menos 5h e outras mais sortudas tem bebês que dormem até 9h direto nesta idade. Porém, a partir do quarto mês, o sono dos bebês é novamente alterado e voltam algumas acordadas noturnas intercaladas com um ou outro dia de sono bom.
Nesta fase, o bebê começa a passar por mudanças que se tornam muito incômodas para ele: início de nascimento dos dentes, gengiva coçando o tempo inteiro até que um bendito dente resolva apontar e quando um aponta, a gengiva começa a coçar de novo para nascer outros.
Os nascimento dos dentes acontece quase que completamente entre 6 e 24 meses e vem um atrás do outro sem dó. Ou seja, você irá passar por fases de dentes nascendo e bebê com sono agitado várias vezes num mesmo mês e quando uma fase passar, logo se inicia outra. Medicar o bebê para isto não é uma boa opção porque os efeitos colaterais são mais prejudiciais do que algumas acordadas noturnas. É possível tentar aliviar o incomodo com mordedores geladinhos e até homeopatia.
Picos e saltos de desenvolvimento estarão presentes na vida do bebê por um bom tempo, acredite.
Quanto mais crescem, mais significativos e intensos os saltos e picos de desenvolvimento se tornam porque as habilidades adquiridas ao longo do tempo vão aumentando e se tornando mais complexas. Imagine que um bebê que passava por um salto de desenvolvimento para aprender a engatinhar, daqui um tempo vai estar passando por um onde precisa aprender a falar, muito mais complexo e significativo. Sim, as fases vão ficando mais difíceis, no entanto você vai se tornando uma jogadora mais experiente. Veja mais sobre isto aqui: Picos e Saltos de desenvolvimento no bebê
Rotina, rotina, rotina…mães vivem ouvindo que precisam estabelecer rotinas.
Sim, a rotina faz com que o bebê se sinta mais seguro e menos ansioso porque ele sabe o que vai acontecer durante o seu dia. Muitas mães tem experiências de noites agitadas depois que mudam a rotina do bebê. O que fazer? Não mudar nunca a rotina? Não. Você deve sair da rotina sempre que sentir necessidade e as vezes ficar na rotina também entedia o bebê.
A questão é aceitar que, talvez mudar a rotina um dia ou outro, deixe o sono agitado e, talvez, manter a rotina o tempo inteiro (principalmente para bebês que já andam e tem um desenvolvimento motor maior, correm, pulam, escalam) pode ter o mesmo resultado de sono agitado ou falta de sono.
A idéia é tentar equilibrar as coisas e acompanhar o desenvolvimento do bebê. Se ele é novinho, a rotina pode ser uma ótima idéia para ele, se ele quer gastar energia, a rotina vai entediar e ele precisa de atividades que gastem esta energia de dia para poder dormir melhor a noite.
A creche, a avó que começa a cuidar ou a babá.
Isto provavelmente vai alterar o sono do seu filho em qualquer idade. Se você tiver que voltar ao trabalho, ele vai sentir sua falta de dia e vai querer aproveitar a noite para ficar com você e ganhar de novo todo o tempo que perdeu sem você. É saudade. Acolha com carinho esta saudade.
Sim, você vai ficar exausta e o melhor a fazer é pedir ajuda para alguém com outras tarefas para que quando você chegar em casa, dedique o quanto puder de tempo para matar esta saudade. Pode ser que esta saudade dure um tempo. Dias, semanas ou meses. Cada um terá um período de adaptação e aceitação da nova realidade, é importante respeitar este prazo e tentar pedir toda a ajuda que você puder.
Eu não trabalho fora e mesmo assim…
Neste caso, vale a pena refletir sobre o quanto de atenção tem sido demandada para o bebê. Você esta em casa, porém, esta ocupada o tempo inteiro com home-office, serviços domésticos, comida, internet, celular ou televisão. Você até brinca com o seu bebê, mas a maior parte do tempo passa fazendo estas outras coisas.
Você se dirige ao seu bebê para alimentar, amamentar, trocar, dar banho e fazer coisas relacionadas a cuidados diários ou você além de tudo isto conversa, brinca, olha nos olhos, abraça e esta presente? Presença presente e não presença ausente. Presença ausente altera o padrão de sono dos bebês pelos mesmos motivos da mãe que trabalha fora.
E o tal ciclo de sono dos bebês que é completamente diferente do ciclo de sono dos adultos?
Segundo o livro “Soluções para noites sem Choro” durante o primeiro ano o padrão de sono reflete o amadurecimento do sistema nervoso do bebê, assim os ciclos de sono duram 60 minutos em recém-nascidos/bebês e depois dos 2 anos de vida se prolonga para 90 minutos. O ciclo de sono se repete durante quatro ou cinco vezes durante o sono. Todos nós passamos pelos ciclos de sono e acordamos a noite, a diferença é que voltamos a dormir imediatamente e acordamos menos vezes que os bebês.
Os bebês acordam mais vezes, justamente por causa do ciclo de sono menor e ainda não conseguem voltar a dormir imediatamente como os adultos, daí que solicitam a presença da mãe. Estatística extraída do livro Soluções para Crianças de 1 a 6 anos Resultado da maior pesquisa sobre sono realizada nos EUA, a “Sleep in America Poll” de 2004: Crianças de 1-3 anos acordam à noite: 3 ou mais vezes (4%) 2x por noite (5%) 1x por noite (38%)
Em outras palavras, 47% das crianças dessa faixa etária acordam pelo menos 1 vez por noite e precisam da ajuda de um pai ou mãe para voltar a dormir. “Dormir a noite toda, TODA a noite, sem precisar da ajuda dos pais, é como aprender a andar ou falar ou beber no copinho. Todas as crianças chegam lá, mas elas o fazem em seu próprio ritmo, um pouquinho por vez, e com seu jeitinho próprio.”
A necessidade diária de sono varia, não só de indivíduo para indivíduo (variação inter-individual), como também no mesmo indivíduo (variação intra-individual) de dia para dia. Existem vários fatores que contribuem para a alteração do padrão de sono, nomeadamente fatores físicos, sócio-culturais, psicológicos, ambientais e outros. Segundo um estudo efetuado por DLIN e colaboradores (citados por THELAN, 1996)
A maternidade é como ir tateando vendada uma sala escura e tentar em meio a escuridão achar uma luz ou uma direção para seguir. Fórmulas prontas não existem, respostas objetivas não servem para todas. A importância da empatia é sempre lembrada aqui como um agente transformador. Se colocar no lugar do outro e dizer: Eu compreendo que não esta sendo fácil para você, quero chegar perto da sua dor e dividir o seu fardo com a minha compreensão” torna a nossa vida mais fácil porque o olhar sai de nós mesmos e busca no outro respostas.
Encontramos compreensão.
Sentimos que se o bebê esta acordando é porque algo o incomoda, se este algo não pode ser resolvido de forma objetiva, ele precisa ser amparado e acolhido e nesta hora a amamentação cumpre seu papel de forma linda. E é importante saber que desmamar abruptamente o bebê para fazer com que ele durma não vai resolver a situação, porque esta questão de desenvolvimento do sono é fisiológica e estará presente no bebê mamando ou não no peito.
Todos os outros fatores externos que alteram o sono do bebê, quando não podem ser mudados ou minimizados como os picos e saltos de desenvolvimento ou nascimento dos dentes, também vão existir com o bebê mamando ou não. Ainda que um bebê passe pela crueldade de um treinamento de sono onde ele fica chorando até que se conforme que não há ninguém ali capaz de acolhê-lo, logo ele volta a chorar de novo em uma fase que cause mudanças em seu desenvolvimento.
Reconhecer o momento em que se esta e entender que este padrão de sono tão diferente do nosso faz parte da natureza das crianças é um caminho para pensar em minimizar o cansaço e buscar estratégias que tornem a passagem por este período mais fácil e menos dolorida para todos os envolvidos.
Procurar por fórmulas que mude a natureza do desenvolvimento de uma criança é perder tempo e tornar as coisas mais difíceis e traumáticas principalmente para o bebê. Aceitar que esta é uma fase e que como todas as outras vai passar, torna a passagem mais leve e tranquila.
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