Informação sobre amamentação: “se tivesse dado só uma mamadeira ao meu bebê…” a polêmica que não ajuda mães

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Este portal é recheado de informação sobre amamentação baseada em evidências científicas e nas últimas atualizações sobre o tema.

Recentemente surgiu na rede uma polêmica informação sobre amamentação que na verdade não informa e nem ajuda mães. Desinforma totalmente, fortalece mitos e apavora mães quanto a possibilidade do bebê não ser nutrido com leite materno exclusivo.

A matéria é sensacionalista e não é baseada em evidências. Ainda conta com o relato de uma mãe que infelizmente perdeu seu bebê, segundo ela por desidratação devido a baixa oferta de leite materno.

Veja parte da matéria que teve o relato da mãe traduzido em vários sites maternos:

“Landon, o bebê em questão nasceu a termo pesando 3360g, em uma cesariana de emergência devido à sofrimento fetal, mas foi estabilizado. Mamou exclusivamente com uma excelente pega por 15 a 40 minutos a cada 1-2 horas.

Segundo a mãe, o bebê estava em seu peito o tempo inteiro. Os consultores de lactação que avaliaram a pega do bebê disseram que ele estava pegando corretamente e mamava bem, no entanto, alguém mencionou para a mãe que talvez ela poderia ter um problema para “produzir leite” devido a SOP (síndrome do ovário policístico), além de recomendarem ervas para que ela aumentasse a produção de leite.

No hospital, os fatores de risco de sua mãe para lactogênese II foram identificados pelo consultor de amamentação IBCLC. Eles eram: diabetes, um pequeno problema com infertilidade, mamas com crescimento mínimo durante a gravidez (…). Apesar disso, ela foi encorajada a amamentar exclusivamente, monitorada de perto pela enfermeira, consultora de lactação e obteve apoio médico. A pega do bebê foi classificada como excelente”. Fonte: FedisBest

Então, algumas coisas sobre amamentação precisam ser esclarecidas.

Amamentar não é um ato instintivo, apesar de ser natural aos mamíferos. Hoje em dia, as mulheres precisam aprender como amamentar seus bebês, quais técnicas e posicionamentos são os mais adequados, além de saber fazer o bebê pegar corretamente o peito e amamentar em livre demanda.

Caso a mãe não consiga fazer isto, ela pode buscar a ajuda de uma consultora de amamentação ou um banco de leite.

Bem como pode visitar a maternidade que teve seu bebê, principalmente se ela é um Hospital Amigo da Criança para avaliar se o bebê esta ordenhando e recebendo leite materno suficiente.

1. Diabetes não impede a mãe de amamentar seu bebê e nem interfere em sua produção de leite materno.

2. Síndrome dos Ovários Policísticos não impede a mãe de amamentar e nem interfere em sua produção de leite materno.

Não existe nenhuma comprovação científica a respeito destas duas doenças interferirem na produção de leite materno, inclusive, conheço mães que as possuem e isto nunca foi fator determinante para ter ou não leite.

Segundo a matéria, o bebê recebeu alta e mãe também, estavam aptos para ir para casa. Nada nos exames dentro do hospital identificou que o bebê não estava bem ou que a mãe precisava de algum tipo de ajuda para amamentar seu bebê, mesmo com todas os possíveis impeditivos para que ela amamentasse, descritas pelos profissionais que a atendeu, segundo a matéria em inglês. E ela foi para casa para amamentar. Há algo errado aí.

Eu entendo que qualquer mãe perder seu filho é trágico e como mãe lamento profundamente a dor e sequer imagino o tamanho deste sofrimento.

Mas também sei que em meio a dor, as vezes qualquer explicação que console esta mãe, ainda que não seja real ou baseada em evidências pode ser usada tanto por ela mesmo quanto pelos profissionais que a acompanham para lhe garantir algum conforto e tirar de seu ombro o peso de qualquer culpa.

Ou, quando estes mesmos profissionais não sabem o que aconteceu, encontram uma “razão” para justificar o fato.

É importante salientar que devido aos grandes mitos e desinformações espalhados sobre amamentação, alguns problemas perduram até hoje e podem interferir no processo de amamentação.

3. Livre demanda não é livre demanda quando o bebê usa chupeta ou qualquer outro tipo de bico artificial.

 (algo muito comum e de uso bem forte fora do Brasil, principalmente, é indicarem a chupeta e não considerarem que ela pode ser um vilão no processo).

Isto porque os bicos interferem que o bebê ganhe peso suficiente e ordenhe leite materno suficiente, além de atrapalhar a boa pega do bebê.

Tanto a chupeta, que ocupa a boca do bebê que deveria estar mamando, quanto o bico de silicone (algo que imagino que foi indicado para esta mãe, já que ela tinha bico “pequeno”, segundo a matéria) impedem o ganho de peso, atrapalham a boa produção de leite materno e causam confusão de bicos, principalmente em recém nascidos, mais ainda em prematuros e ainda mais para a mãe que tem o bico plano ou pequeno demais.

Vale ressaltar que uma mãe com bico plano amamenta seu filho com informação e apoio de profissionais de aleitamento.

Alguns profissionais de aleitamento fora do Brasil usam o bico intermediário e não se colocam desfavoráveis a chupetas, mesmo sendo IBCLC, o que é um erro, já que é comprovado que eles são vilões da amamentação.

A maioria dos profissionais no Brasil não indicam o uso de bicos e para relembrar: O Brasil é referência em aleitamento materno, mais do que qualquer país de primeiro mundo. Ao menos isso, né?

Veja o grande problema que os bicos podem causar na vida do bebê e da mãe aqui: O ciclo de problemas: chupeta, mamadeira e baixa produção de leite materno

4. Bicos planos, pequenos, duplos, entre outros, não interferem no processo de amamentação e o bebê aprende a mamar nestas mamas corretamente.

O bebê ordenha o leite da aréola e não do bico. É certo que mães com estes tipos de bicos podem precisar de mais ajuda do que outras para aprender o processo de amamentação, neste caso, informação e apoio de um profissional resolvem a questão. Veja aqui: Tipos de mamas na amamentação

5. O colostro, primeiro leite que o bebê recebe assim que mama no peito da mãe é suficiente para alimentá-lo e nutri-lo por dias, bem como o leite que vem logo após o colostro.

Qualquer boa técnica de amamentação onde o bebê faz a pega correta, esta bem posicionado e não há nenhum impeditivo real para a baixa produção de leite materno (estes muitos raros) fornece ao bebê a quantidade adequada de leite materno, principalmente quando ele é amamentado em livre demanda.

Se informe sobre estes temas:

  1. Colostro também é leite
  2. Como fazer a pega correta
  3. O que é livre demanda e porquê precisamos dela
  4. Seu bebê está recebendo leite materno suficiente?
  5. Como aumentar o leite materno
  6. Benefícios da amamentação para prematuros

6. Nenhum tipo de ervas, comidas ou simpatias possuem comprovação científica que aumentam a produção de leite materno.

Veja aqui: como aumentar o leite materno e 6 dicas para aumentar o leite materno naturalmente. E mais, chás e ervas podem ser tóxicos e perigosos tanto para mãe quanto para o bebê. Veja aqui: Chá aumenta a produção de leite? Mitos da amamentação, gestação e riscos

Cuidado com informações sem base científica, com apelo emocional extremo e sensacionalista que coloca por terra a capacidade de mães de nutrir seus filhos. Estas notícias são um prato cheio para a indústria do desmame.

E vários sites de maternidade, bem como algumas blogueiras maternas não tem o menor compromisso com a informação baseada em evidências e atualizadas sobre amamentação, além de serem irresponsáveis em transmitir experiências pessoais que não são a realidade da maioria e mais atrapalham do que ajudam.

Não sabemos se a mãe fazia a livre demanda de forma adequada.
Não sabemos se o próprio hospital foi infeliz na alta e deixou passar qualquer problema.
Não sabemos se esta mãe teve apoio após o parto em casa.
Não sabemos se o bebê dela tinha qualquer dificuldades oral que o impedia ou atrapalhava a ordenhar o leite materno.
Não sabemos se a 5 anos atrás havia disponível para todos os envolvidos a quantidade de informação que há hoje e se eles tiveram acesso a estas informações. Quantos profissionais de saúde desatualizados ainda há hoje, não é mesmo?.

Sabemos que esta foi uma história trágica, mas como muitos hospitais, pessoas, sites, portais e blogs, acham mais fácil culpar “o leite materno” ou melhor “a falta de leite materno” do que investigar e transmitir para mães uma informação responsável e que não seja apenas um “click bait” (matérias sensacionalistas puxadoras de cliques em sites). Seja criteriosa com aquilo que você lê, acredita e compartilha na internet. 😉


Suelen Maistro
Mãe do Fe. Criadora dos portais Mãe Pop e Sue Maistro. Artista Visual, Diretora de Arte e Tattoo Artist. Pesquisa e estuda temas relacionados a amamentação, educação, criação, psicologia, ciência, arte e design. Mas não se engane, as vezes jogo conversa fora em artigos despretensiosos, pouco importantes e irônicos. Bem vinda a minha casa virtual