Amamentar é de graça, mas ainda assim a maioria das mulheres não conseguem amamentar por muito tempo, mesmo que queiram.
Amamentar é de graça, mas por falta de apoio, incentivo, informação e profissionais atualizados e especializados, também pode ser um privilégio para poucas.
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Isto porque não basta apenas querer ou ter sorte em não ter mamas feridas, ingurgitadas, doloridas e um bebê desesperado de fome. Além disso é preciso uma rede de apoio ao redor da mãe, para garantir que ela tenha o incentivo e a informação adequada para seguir adiante mesmo com todas as dificuldades que aparecerão no caminho.
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Se dedicar exclusivamente ao bebê durante este período tem tanto a ver com privilégio quanto com perseverança e vontade.
O trabalho de alimentar um recém nascido diariamente no peito é uma nova etapa diária de esforço após o nascimento em si.
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Amamentar é de graça, mas também pode ser um parto por dia para muitas mulheres.
Veja, quando uma mãe sem apoio nenhum familiar consegue consultar um especialista em amamentação e pagar a parte por isto, quando esta mesma mãe tem a oportunidade de poder trocar de médico no plano de saúde quando não encontra nenhum que a apoie em sua decisão de amamentar e quando esta mesma mãe dispõe de ajuda domiciliar com todas as outras funções da casa e da organização de sua vida pós parto ela esta sendo privilegiada.
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Amamentar é de graça, no entanto, algumas mães não tem acesso a troca de médicos em busca de um atualizado e que entenda sobre aleitamento porque dependem do SUS.
Outras não tem dinheiro para pagar por uma consultora de amamentação em casa, nem mesmo para o leite artificial, sim, se ela não conseguir, o bebê dela provavelmente tomará leite de vaca comum com farinhas lácteas cheias de açúcar.
Algumas mães não poderão se dedicar a amamentação nos primeiros meses, terão que voltar para o trabalho porque realmente precisam e neste trabalho não terá local adequado para ordenha e muito menos local para que ela guarde este leite.
Ainda que ela consiga ordenhar e armazenar, muitas creches públicas onde ela deixará seu bebê provavelmente não irá aceitar leite ordenhado, oferecendo o leite disponibilizado pelo governo para as crianças e este não será um leite artificial especial para bebês.
Se esta mãe chegar até a parte da ordenha, se ela souber fazer isto com a técnica adequada ou tiver a orientação adequada a respeito. Muitas não sabem, não conseguem e não sabem onde procurar a informação, até mesmo hoje em dia com acesso a internet.
Isto porque, quantos sites você vê por aí com informações desencontradas sobre amamentação? Quantos sites que insistem em passar informações desatualizadas e cheias de mitos sobre o tema? Quantos sites e blogs maternos que não entendem nada de comunicação ao grande público e muito menos sobre amamentação, passando seus “achômetros”, seus “eu acho”, suas crenças a respeito de como deveria ser a amamentação de cada uma, baseada apenas em seus próprios valores, ideologias e vivências a respeito?
Muitos. Muitos. Muitos!
Frequentemente, esta decisão pela amamentação ou não também é baseada em fatores sistêmicos que não são necessariamente uma escolha individual. A maioria das mães desejam amamentar, no entanto, no meio do caminho elas se deparam com os mais diversos desafios de forma solitária e geralmente desinformada.
O caminho para apoio e incentivo da amamentação passa por políticas públicas, mudanças culturais e estruturais em como a sociedade aceita e enxerga a mãe que amamenta e um processo de desenvolvimento e compreensão das famílias e seus arranjos de forma que amamentar funcione para todos, entre eles, mãe e bebê como pontos centrais desta discussão.
Ainda que uma mãe esteja decidida, fisicamente disposta e seja emocionalmente exigente com seu processo e vontade em amamentar seu bebê, até mesmo dentro de sua própria família ela encontrará desafios a respeito do conhecimento sobre o assunto de décadas atrás que a maioria das pessoas ainda insistem em trazer para o presente e levar para o futuro como atitudes que funcionam em amamentação, ainda que esteja provado cientificamente que não.
Amamentar é de graça, mas não é instintivo. É algo que se aprende ao longo do tempo e para que isto seja possível é preciso informação, apoio, incentivo, vontade e um todo que existe ao redor da mãe conspirando a seu favor neste processo.
Enquanto a amamentação pode ser “gratuita” no sentido de que você não precisa pagar ao seu corpo para torná-la real, as condições que a sustentam como uma opção de alimentação exclusiva são afetadas por todo um processo sócio-cultural que nos envolve diariamente.
Então se você conseguiu ser perseverante e teve apoio ou não neste processo, se dependeu apenas de sua vontade e o que você sabia a respeito, se você teve ajuda ou não, se até aqui foi dolorido como nunca nada em sua vida tenha sido antes, saiba que ainda assim você é uma privilegiada.
E é por isso minhas caras amigas maternas, que olhar torto para aquela mãe com uma mamadeira na boca do filho dela na salinha de espera do pediatra não vai ser legal e muito menos justo. Pensar que amamentar ou não se trata apenas de escolha, é um engano.
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