O que é psiquê? Este termo foi frequentemente encontrado na filosofia de Platão.
Falar sobre o que é psiquê nos faz voltar a tempos anteriores a Freud e relembrar do termo em grego antigo, definido como ψυχή (psūkhē) que significa “sopro” ou “espírito”.
Freud em muitas de suas obras associa a psiquê ao cérebro. Em Platão ela frequentemente é traduzida para “alma” em português.
O termo alma geralmente é evitado na ciência moderna justamente para não fazer alusão a uma referência metafísica. No entanto, aqui, não há medo de usá-lo. Considerando sempre o aspecto amplo de significações e toda sua abrangência. Obviamente pautadas pelo aspecto científico, a depender do assunto abordado.
Fato é que, neste artigo, ele indicará as terminologias abordadas pela ciência ou pela filosofia. Mesmo porque, a psicologia era vista em um contexto filosófico em muitas civilizações antigas e só passou a existir enquanto ciência após o final do século 19.
Particularmente nas obras de Platão, Aristóteles, Hipócrates e Galeno, especialmente os últimos que estabeleceram uma fundação surpreendentemente moderna sobre o que é a psiquê.
A psiquê, segundo Freud, trata-se de uma definição mais moderna abordada na psicanálise.
Muitos notarão semelhanças notáveis entre a teoria de Freud do id, ego e superego e a divisão da alma (tripartição da alma) por Platão no apetitivo, racional e espirituoso. Segundo Freud, a mente existe em 3 níveis distintos.
ID
Aparece pela primeira vez quando nascemos, consiste apenas em desejos, ansiedades e instintos primitivos e reprimidos. Opera no princípio do prazer.
EGO
Contém a parte consciente da mente, é uma “organização coerente de processos mentais” (Gay 630) e se situa no topo do id, formando a “superfície do aparato mental” (Gay 632). Parte do ego é inconsciente, mas não é reprimida como o id.
SUPERGO
O nível final da psique, segundo Freud, ou ideal do ego. De muitas maneiras, assim como o id tenta o ego a ceder aos desejos e apetites, o superego funciona como uma consciência, e é uma internalização dos pais e de suas naturezas superiores, e pune o ego por não agir com auto-julgamento e culpa. À medida que crescemos, pais, professores e outras figuras de autoridade exercem uma poderosa influência sobre nosso superego (Gay 643).
Quando pensamos na divisão da psiquê de Platão percebemos semelhanças.
Em seu diálogo filosófico, A República, o personagem de Platão, Sócrates (baseado no professor de Platão), afirma a necessidade de bom comportamento para ter uma alma saudável. Ele primeiro compara o indivíduo a uma cidade com diferentes castas.
- Os trabalhadores, ganhadores de dinheiro e outros trabalhadores interessados em si mesmo compõem o ramo apetitivo;
- Os soldados e auxiliares, que mantêm a classe trabalhadora no lugar, compõem o ramo de busca de honra e espírito;
- Os governantes ou “Guardiões” compõem a classe mais alta e são considerados parte do ramo racional e intelectual da alma.
Segundo Sócrates, só se pode ser saudável e feliz quando as diferentes classes trabalham juntas harmoniosamente, com “os elementos da alma em uma relação natural de dominar e ser dominados uns pelos outros” (Reeve 134).
Quando alguém comete uma injustiça, isso desequilibra as diferentes partições, talvez dando muito poder ao elemento apetitivo e enfraquecendo as outras duas.
A primeira diferença que se pode notar entre os dois modelos é a organização física: Freud vê o ego racional entre o id e o superego, reconciliando os dois. Platão, por outro lado, descreve as três partes como repletas de racionalidade no topo, espírito no meio e apetite que compõe a classe mais baixa.
O elemento apetitivo da psique de Platão pode ser facilmente identificado com o id de Freud. Ambas estão enraizadas em desejos. Eles também formam o nível mais baixo do tripartido e devem ser controlados pelos outros dois elementos.
A principal diferença entre o id e o elemento apetitivo está na complexidade: o id de Freud contém mais do que simples fomes corporais, incluindo ansiedades subconscientes (como a castração). Além disso, embora o apetite componha o nível oeste da hierarquia, Platão não concebe um subconsciente elaborado como Freud, e não atribui impulsos mais sombrios e reprimidos ao apetite, do mesmo modo que Freud faz com o id (Askay e Farquhar, 68).
Apesar da compreensão científica como um fenômeno relativamente recente, as pessoas têm interagido e observado seu mundo há séculos, por dentro e por fora.
E embora haja melhorias numerosas e profundas na tecnologia e no método científico atuais, também há surpreendentes paralelos e semelhanças entre as teorias da modernidade e os tempos antigos. De fato, não importa o quanto nós repreendamos os antigos filósofos gregos por suas visões e superstições conservadoras, retornamos repetidas vezes a suas obras, descobrindo formas e novas interpretações para modernizá-las.
Assim, o que é psiquê deve sempre ser pautado no conhecimento científico e ter esta abordagem em sua aplicação terapêutica, contudo, podemos usar fontes antigas filosóficas para apoiar as fundamentações do conhecimento com um histórico teórico desde os tempos de Platão.
Leia também:
- Teoria do Apego: as fases de desenvolvimento no ser
- Empatia: além da linguagem, uma habilidade social
Bibliografia:
Gay, Peter. The Freud Reader. New York: W.W. Norton & Company, 1989, 628-58. Print.
Askay, Richard, and Jensen Farquhar. Apprehending the Inaccessible: Freudian Psychoanalysis and Existential Phenomenology. Evanston: Northwestern University Press, 2006