A mesma tecnologia que nos faz conhecer o mundo sem sair de casa, que nos oportuniza manter contato diário com parentes e amigos que estão longe também nos choca com o mundo em que vivemos.
Temos acompanhado nos últimos tempos, vídeos, áudios e reportagens que tratam de abusos e maus tratos envolvendo mulheres, animais…e principalmente às crianças.
Não estou aqui para julgar A ou B, mas como C que assiste tudo de forma apavorada, preciso desabafar, pois não consigo ver determinadas coisas e não me sensibilizar sentindo necessidade de fazer algo.
Vejo-me de mãos atadas, a situação acontece longe de mim, mas me toca como seu eu tivesse uma parcela de culpa em colocar um filho num mundo sem valores e sentimentos.
O que vamos esperar do futuro de um país que ao invés de educar, dar afeto e exemplo a sua futura geração permite que seus filhos cresçam em meio ao temor?
Como vamos mudar o mundo quando pais, padrinhos, padrastos, cuidadores, professores ou conhecidos abusam de nossos pequenos sexual, física e psicologicamente? Como aceitar que o lar que deveria dar refúgio, amparo e segurança é o cárcere, o local do trauma, a cena do crime?
O que sentir pela mãe, pai, avô ou qualquer pessoa… que abusa ou que presencia a criança sendo abusada sem esboçar reação? O que fazer quando o inimigo é alguém que a criança e até mesmo os pais tinham como de confiança? Qualquer pessoa em pleno gozo de suas razões se revolta. Quem tem filhos então…toma as dores, se coloca no lugar, pensa no que faria se algo acontecesse com seu filho, analisa o que seria justiça para um caso desses.
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A pior análise de todas é de que o mundo anda tão corrompido que a consciência deu lugar às câmeras escondidas, as brincadeiras deram lugar a longas perguntas que às vezes nossas crianças não “querem” ou não “podem” responder, as grades que nos asseguram da violência das ruas protegem os abusadores dentro de nossas casas, a mesa farta dá lugar ao consumo de drogas.
E os gestos de amor? Ah, esses que são tão importantes dão lugar a hematomas, marcas de cinto, queimaduras, arranhões, estupros e ameaças.
Não me importa, se a pessoa que abusa tem problemas psicológicos, se usa drogas, se não tem laços de afeto com a criança, sempre tem um vizinho, um amigo, um professor que possa suspeitar e mesmo que nunca tenha visto ou ouvido, com base no que lhe fez suspeitar, pode e deve buscar ajuda.
O que me importa, me tira o sono e a paz é que as pessoas não buscam essa ajuda, ninguém vê nada, ninguém ouve nada, ninguém denuncia. Parece que o estalo só vem quando é tarde, quando nossos pequenos estão deprimidos, mutilados, internados ou mortos.
As pessoas se preocupam tanto com a vida dos outros e quando a preocupação seria válida e necessária, não querem se envolver.
É claro que a denúncia é coisa séria e deve ter fundamento, mas os órgãos responsáveis depois de acionados vão investigar, averiguar cada caso em busca do que realmente esta acontecendo. Tem dores que só sente na pele, mas tem outras que se colocando no lugar da vítima dá pra sentir com uma intensidade surpreendente.
O instinto que potencializa a revolta nos traz às lágrimas e o desejo que essas crianças que sobrevivem aos abusos possam experimentar o que é amor, carinho, colo e segurança, seja no seio de suas famílias, em abrigos, locais seguros e até mesmo com novas famílias que venham a acolhê-las e que as vezes aguardam anos em uma fila de adoção com um coração explodindo de afeto e amor pra dar.
Não se omita, não tenha medo, pense que você pode ser o anjo da guarda de alguma dessas crianças ou que alguém pode ser o anjo da guarda do seu filho. Ao contrário do que pensamos que nada temos a fazer, temos muito a fazer, a começar por nossos filhos, sobrinhos, vizinhos e a finalizar com qualquer criança que for vista em situação de perigo seja ele qual for. Não deixe que o peso na consciência e o arrependimento de não ter noticiado algo suspeito, te faça viver o luto que não é meu ou teu, o luto que infelizmente é nosso, como sociedade.