Uma geração que apanhou dos pais e sua tralha emocional

O contexto onde uma agressão sofrida é vista como benéfica é apenas a repetição da atmosfera do medo e humilhação que você viveu.3 min


Há tempo fiz um artigo falando sobre o fato de não ser legal bater nos filhos, mas o assunto é cascudo para se engolir, principalmente para uma geração que apanhou dos pais.

Uma geração que apanhou dos pais costuma entender que bater é corrigir e não ser permissivo. Tem um grande problema para quebrar o ciclo vicioso das palmadas até mesmo no pensamento.

As vezes eles podem até não bater nos filhos, mas entendem em seu subconsciente que fazer isso é necessário e benéfico.

Isto mais parece um sentimento de inferioridade sobre si mesmo e suas capacidades. Como alguém pode achar que não seria capaz de aprender de uma forma mais amorosa e empática? Como?

Você pode ler o primeiro artigo aqui: Seu filho precisa apanhar? Então o problema é você.

Sim, o primeiro artigo vai te questionar, porque é isso que eu faço desde criança: questionar. Já pensou se eu tivesse apanhado todas as vezes que questionei? Coitada de mim.

Me acusaram de estar ajudando a criar a geração do “mimimi”.

O que é “mimimi” pra você? Pra mim é gente que não aguenta lidar com a verdade e tenta achar razões para justificar o erro.

Não conseguir se encarar no espelho, se desnudar e se perguntar: o que estou fazendo de errado? Como posso melhorar? Isso sim é coisa de gente “mimimi”.

A porcentagem de pais que não batem em seus filhos ainda é muito pequena, a grande maioria das pessoas hoje são as que apanharam ou continuam apanhando dos pais.

A geração de hoje, a anterior e talvez a próxima ainda é a geração que apanhou dos pais. Então é a mesma que acusam de não ser bem educada, mas opa, esta foi a que mais apanhou e isto, teoricamente, não resolveu, não é mesmo?

O que significa que este discurso raso de quê “a geração de hoje…” não condiz com a realidade.

De forma ampla, o contexto onde uma agressão sofrida é vista como benéfica e usada como solução de correção é apenas a repetição da atmosfera do medo e humilhação que você viveu.

Claro que você ama seus pais e nem poderia ser diferente disto. E claro que seus pais te amam, mas você esta repetindo o comportamento agressivo de educação que recebeu deles com seu filho. Aquele que eles, provavelmente receberam dos pais deles. Isto me soa um tanto problemático. E identificar um erro em seus pais e tentar fazer diferente não é nenhum crime!

A repetição de um erro nada mais é do que a tralha emocional que carregamos ao longo da vida e a qual não conseguimos nos desvincular, como bater nos filhos porque apanhou, por exemplo.

Quando você bate no seu filho sem pensar de forma crítica se isto realmente funciona ou sobre ser o melhor; mesmo você não tendo gostado de apanhar e sabendo que dói, você esta apenas atualizando traumas inconscientes.

Nas palavras de J. D. Nasio, psicanalista francês e autor do livro “Por que repetimos os mesmos erros”:

“De tanto repetir, confirmo que sou o mesmo de ontem e hoje. Numa frase, Repito, logo sou. Qual é, por conseguinte, a finalidade da repetição? Na realidade a repetição tem uma finalidade anterior exterior a si própria que ela buscaria alcançar. Essencialmente ela é uma tendência que não tem outro fim a não ser permanecer sempre uma força que avança e nos arrasta para nos tornamos mais nós mesmos”.

Ou seja, você esta se sabotando e se impedindo de avançar e evoluir como ser humano.

De quebra, esta criando alguém que poderá futuramente seguir o mesmo caminho e o mesmo ciclo vicioso.

Para a psicanálise, a única forma de romper com ciclos viciosos de repetição é através da investigação e acesso ao “trauma ou fantasia original”. A Gestalt e a Cognitivo Comportamental, por exemplo, nos ensinam que muitas vezes, ao mudarmos um comportamento externo, conseguimos provocar mudanças internas.

Olha só que grande oportunidade você tem! O que nos leva ao meu outro artigo: Seu filho é um problema ou você esta com um problema?

Eu gosto de repensar atitudes, acho saudável. Eu não gosto de seguir sempre inconsciente e muito menos responder de forma automática aos padrões. Dá licença, sou um ser humano e se penso, logo, existo. Acho que nos perguntarmos o tempo inteiro “e se…” pode ser um passo, ainda que pequeno, para uma grande mudança.

Somos os agentes transformadores na vida de nossos filhos.

Eles são como páginas em branco esperando para receber o melhor de nós. Cuide de sua alma, para você desenhar algo melhor ainda no seu filho. Jogue fora suas tralhas emocionais.

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Suelen Maistro
Mãe do Fe. Criadora dos portais Mãe Pop e Sue Maistro. Artista Visual, Diretora de Arte e Tattoo Artist. Pesquisa e estuda temas relacionados a amamentação, educação, criação, psicologia, ciência, arte e design. Mas não se engane, as vezes jogo conversa fora em artigos despretensiosos, pouco importantes e irônicos. Bem vinda a minha casa virtual