Adultos ao longo do tempo perdem aquilo que moveu praticamente uma infância saudável inteira: o saber brincar.
Não por menos quando se tem filhos, de repente os vemos tentando “ensinar” os filhos a brincar. É como tentar ensinar a raposa a caçar! Crianças sabem brincar, elas só precisam que a deixem brincar preparando o espaço e lhes dando o tempo ou a companhia.
Quem nunca se pegou falando para o filho:
“Zézinho, não é assim que usa este brinquedo. É assado”
“Mariazinha, não pode brincar deste jeito, é deste.”
“Julinha, pare de rodar, você vai ficar tonta”
“Bernardo não suba aí, você vai cair”
“Felipe pára de correr”
“Aninha não é assim que canta”
Por que será que adultos não conseguem respeitar o espaço lúdico da criança e deixar que ela invente as próprias brincadeiras? Ou dê funções novas para os objetos e brinquedos? Quem disse que com um brinquedo só se brinca como o manual diz?
Quando criança, você brincava na rua com a turminha da mesma idade e se lembra de algum adulto te falando como devia pular corda, ou quais as regras do pique-esconde? As crianças decidiam as regras da brincadeira. Inventavam ou não regras. Inventavam novas brincadeiras, até. Coisa de criança, sabe como é.
No entanto hoje, existem adultos tentando ensinar ou normatizar brincadeiras infantis. Ditando regras, interferindo no lúdico e querendo adequar o brincar a vida adulta.
Por favor, não. Uma infância saudável também significa ter autonomia criativa para poder brincar com liberdade.
Quando não tentam o tempo inteiro interferir nas brincadeiras e dar sentido a todas, se uma mãe ou pai vê o filho brincando quietinho no canto, já logo acha que a brincadeira precisa ter um adulto para ser divertida e vai lá, interromper a imaginação para suprir essa provável culpa de deixar brincar sozinho.
Imagina só, crianças quando brincam sozinhas também viajam para mundos distantes e imaginativos. Estão ali com um pequeno aviãozinho e sabe lá você por quais céus ele voa.
Criança não brinca para aprender nada, ela brincar por brincar. Brincar é o objetivo e nada mais. O importante é saber em que momento se pode entrar na brincadeira e participar dela, sem interromper o lúdico e sim fazer parte dele.
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Brincar é: comunicação e expressão, associando pensamento e ação; um ato instintivo voluntário; uma atividade exploratória; ajuda às crianças no seu desenvolvimento físico, mental, emocional e social; um meio de aprender a viver e não um mero passatempo (Maluf. 2003, p. 17).
Liberdade é uma característica nata de toda brincadeira. Em um tempo onde os espaços de brincar acabaram para muitos e foram reduzidos a apartamentos, pequenos quintais e as vezes muito pouco contato com outras crianças, ser criativo, imaginativo e ter liberdade para voar na brincadeira é fundamental.
Que os adultos parem de tentar trazer as crianças para o seu mundo normatizado e cheio de regras onde o lúdico ficou para traz e tente se encaixar nas novas brincadeiras, as que já existem e as que são inventadas dia a dia por uma cabeça imaginativa e criativa de criança. Que os adultos se abram para a brincadeira e se aproximem dos seus filhos. E que no fim, que se aprenda a brincar de novo e não a ensinar aquilo que toda criança já sabe fazer muito bem.