Ética no aleitamento: conflitos de interesses e profissionais de aleitamento

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A ética no aleitamento costuma ser um assunto tabu para a maioria das pessoas, mas não para alguém como eu, sem conflitos de interesse.

Quando levantamos o tema ética no aleitamento materno, nem todos podem falar do assunto com propriedade, pois sua prática esta cheia de conflitos de interesse e as associações que faz com a indústria o torna alguém não confiável para discursar sobre o tema.

Felizmente este não é o meu caso. Desde que lancei o Mama Neném, segui a risca todas as normas da NBCAL, inclusive respeitando seu espírito e nunca me associei com ninguém que promova o desmame comercial direta ou indiretamente.

Como profissional de comunicação e totalmente gabaritada para abordar o tema, vamos esclarecer o que é ética primeiro.

Ética: Estudo ou reflexão, científica ou filosófica, e eventualmente até teológica, sobre os costumes ou sobre as ações humanas. Mas também chamamos de ética a própria vida, quando conforme aos costumes considerados corretos. A ética pode ser o estudo das ações ou dos costumes, e pode ser a própria realização de um tipo de comportamento. (Valls, 1996)

E o que seria então, ética no aleitamento materno?

1 >> Enquanto profissionais de aleitamento materno, principalmente os mais atualizados e estudiosos do tema, sabemos que algumas coisas fazem mal para mãe e bebê, que alguns produtos podem prejudicar a amamentação e interferir no sucesso daquela dupla.

2 >> Também sabemos que algumas indústrias tentam a todo custo tornar o leite materno igual ou inferior ao leite artificial por um único motivo: o lucro. Acima de tudo e qualquer um. O lucro acima; inclusive, da morte de bebês, como aconteceu ao longo dos anos em tristes histórias onde o leite materno foi deixado de lado para o consumo de leite artificial.

3 >> Além disso, temos as normas da NBCAL, que se tornou lei em 2015, onde esta clara a regulamentação a respeito de produtos relacionados a alimentação infantil que podem ou não ser divulgados para o público e como isto deve acontecer.

Considerando todas estas questões, aliadas ao baixo apoio e incentivo que mulheres tem hoje para conseguir amamentar, a ética no aleitamento se refere principalmente a um comportamento onde o profissional não se associa com pessoas ou empresas que estão mencionados em qualquer uma destas situações acima.

Um profissional sem conflitos de interesse, é aquele que não esta associado a nenhuma empresa ou pessoa que vende produtos ou age contra as melhores práticas em aleitamento materno, inclusive tentando comparar seus produtos como itens que uma mãe precisa para “conseguir” amamentar ou ainda, vendem alimentos que se coloquem como competidores, melhores que o leite materno ou até indispensáveis no processo de amamentação (leite artificial, mamadeira, chupetas, papinhas).

Sendo bem didática e clara, porque parece que alguns profissionais de aleitamento materno não entendem ou se fazem de desentendidos:

  • Não se associar com empresas que vendem produtos como conchas, absorventes, mamadeiras, bicos intermediários, chupetas, compressas, leite artificial entre outros.
  • Não se associar com pessoas ou empresas que promovam o desmame comercial: falem sobre leite artificial ser melhor ou igual ao leite materno, que trabalhem para estas empresas ou estejam associados com elas.

Vou ser mais clara ainda: se Mariazinha é médica e resolve ser blogueira de uma empresa que vende produtos que claramente faz mal para a amamentação ou falar bem desta empresa em suas redes sociais, ela não esta sendo ética e coerente com aquilo que defende e acredita, logo não é um profissional tão confiável assim.

Que tal essa: se Jorginho é de uma sociedade que teoricamente teria que cuidar do bem estar das crianças acima de tudo e recebe patrocínio de uma empresa de alimentos infantis que tenta sempre colocar seu leite artificial como padrão de qualidade acima do leite materno, é estranho não é mesmo? Como confiar?

Mais uma: se uma profissional de aleitamento materno, resolve vender ou distribuir kits de determinada empresa com produtos que claramente fazem mal para a amamentação, dizendo que podem “ajudar”, ela é confiável? Ela é coerente? Ela é ética?

Não, meus caros. E existem muitas outras situações como esta, infelizmente.

Mas então como a gente ganha dinheiro?

Quero deixar claro uma coisa que muitos não sabem: para trabalhar com aleitamento materno e ser totalmente ético e coerente, é preciso ter em mente que não se fica rica, não ganha rios de dinheiro e este trabalho é bem desvalorizado.

Então, sim, este é um daqueles casos onde sua principal motivação terá que ser o amor pelo aleitamento materno e a vontade de mudar nossa realidade de amamentação.

Para ser um bom profissional de aleitamento materno e totalmente ético, é preciso ter empatia com mães e bebês em sua forma mais pura. Isto significa que você se sentiria ofendida em trabalhar ao lado de pessoas que pior que não promover a amamentação, a prejudicam. Sacou?

É olhar para algumas associações entre profissionais de aleitamento x empresas e achar simplesmente imoral.

Fora isto, a receita de sempre ainda vale e como profissional de comunicação a mais de 15 anos, eu te garanto:

Nada como o serviço prestado com excelência como a melhor propaganda do seu trabalho. Como todos os outros, leva-se tempo para ter um nome confiável no mercado e ser indicada para atendimentos, é preciso ter paciência.

Mas este nome construído pode cair por terra em minutos, em uma única postagem associada a empresas e pessoas que não levam o aleitamento materno a sério.

Então cuidado: ser profissional de aleitamento materno não é sair por aí falando bem do leite materno, ao mesmo tempo que você se envolve com a indústria de leite artificial e de produtos para amamentação. Não dá pra se relacionar com os dois ao mesmo tempo, ou você esta do lado de um ou do outro.

Não importa quantos títulos profissionais uma pessoa tenha em aleitamento materno, pode ser doutor, mestre, consultor internacional (estamos de olho, viu?) entre outras coisas, se está se associando com empresas e produtos que não promovem a amamentação de forma real e não segue as normas e o espírito da NBCAL, não é digno de confiança.

Um recado para as mães:

Sempre que vocês forem procurar um profissional de aleitamento materno, veja as redes sociais dele:

  • O quê ele vende ali?
  • Quem ele divulga?
  • Que produtos usa?
  • Ele trabalha para alguma grande empresa do ramo da alimentação infantil ou de produtos milagrosos para “ajudar” na amamentação?
  • Ele indica empresas ou os produtos destas empresas em sua prática profissional?

Se for sim para uma ou todas estas perguntas, desconfie.

Um bom profissional de aleitamento materno não se utiliza de praticamente produto nenhum para te ajudar no processo da amamentação, na verdade, ele te ajuda a se libertar destes produtos.

O máximo que um bom profissional usa são bombas extratoras de leite e copinhos. Qualquer outro produto usado é temporário, com o objetivo de retirada e não de indicação de uso.

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Suelen Maistro
Mãe do Fe. Criadora dos portais Mãe Pop e Sue Maistro. Artista Visual, Diretora de Arte e Tattoo Artist. Pesquisa e estuda temas relacionados a amamentação, educação, criação, psicologia, ciência, arte e design. Mas não se engane, as vezes jogo conversa fora em artigos despretensiosos, pouco importantes e irônicos. Bem vinda a minha casa virtual